O ano de 2025 testou as expectativas mais desfavoráveis no Brasil, moldando a economia brasileira com desafios tanto externos quanto domésticos. Um período de aperto monetário severo foi implementado para conter a inflação, enquanto o mercado de trabalho demonstrava notável resiliência e a renda dos brasileiros alcançava patamares históricos. O cenário internacional, por sua vez, foi marcado por inéditas barreiras comerciais impostas pelos Estados Unidos, que colocaram à prova a diplomacia e o balanço financeiro das empresas exportadoras. Contudo, em meio a essa turbulência, a Bolsa de Valores brasileira registrou recordes expressivos.
Desde o início de 2025, a condução da política monetária ficou sob a responsabilidade de Gabriel Galípolo, nomeado presidente do Banco Central pelo presidente Lula. Seu desafio inicial foi o de estabelecer a credibilidade necessária para guiar a política econômica, mantendo um perfil de continuidade técnica e compromisso com a meta inflacionária. As ações do Banco Central visaram equilibrar a euforia do consumo impulsionada por recordes de renda e baixa taxa de desemprego, uma vez que a resiliência do mercado de trabalho contribuía para a pressão inflacionária.
Economia Brasileira 2025: Selic a 15%, Tarifaço e Bolsa Recorde
A taxa básica de juros, a Selic, atingiu a marca de 15% em junho e permaneceu nesse nível pelo resto do ano. Este foi um período de juros médios restritivos, fazendo com que setores econômicos e o mercado acompanhassem de perto os indicadores, buscando sinais para o início de um possível ciclo de cortes e novas janelas de investimento. Contudo, a atividade econômica e os indicadores de inflação mostraram-se lentos para reagir, com a inflação de serviços, em particular, exibindo persistente resistência em ceder. Para Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do FGV Ibre, a lição de 2025 é que foi preciso manter a Selic a 15% para que a política monetária surtisse efeito, resultando em um juro real de quase 10% ao ano, o que não configura um cenário otimista, conforme analisa em pesquisa no portal oficial do FGV Ibre.
O professor Eduardo Menicucci, da Fundação Dom Cabral, avalia que, embora o “remédio” do Banco Central contra a inflação tenha gerado a queda esperada, seus efeitos colaterais foram substanciais. Ele destaca a desaceleração da atividade econômica, com o Produto Interno Bruto (PIB) previsto para fechar o ano abaixo da média histórica do Plano Real (2,22%), além de um aumento exponencial nos pedidos de recuperações judiciais e um visível desânimo empresarial. As projeções para 2026, conforme o relatório Focus, indicam um crescimento ainda menor (1,78%) em comparação a 2025.
Conflitos Comerciais: O Impacto do Tarifaço Norte-Americano
O cenário de combate à inflação no Brasil teria sido ainda mais severo se não fossem alguns fatores externos favoráveis, como a desvalorização do dólar e a “exportação de deflação” proveniente da China, que influenciou a economia global. Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco e ex-diretor de Política Econômica do Banco Central, aponta que a inflação de 2025 se beneficiou da redução nos preços de componentes expostos ao comércio internacional, como alimentos e produtos industriais, ao passo que os serviços mantiveram a pressão devido ao aquecimento do mercado de trabalho.
Em abril de 2025, o governo norte-americano, liderado por Donald Trump, surpreendeu ao anunciar uma tarifa de importação de 10% sobre produtos brasileiros, gerando apreensão quanto aos possíveis impactos inflacionários e sobre as vendas dos setores exportadores. A tensão escalou em agosto, quando Trump elevou a taxação para 50%, citando questões políticas como o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, e afetando 35% das exportações brasileiras. Embora mitigada por uma lista de exceções, a medida representou um desafio significativo para a diplomacia econômica do país.
Após meses de infrutíferas tentativas de diálogo, caracterizadas pela oposição dos EUA e cancelamentos de agendas, os setores mais atingidos iniciaram negociações. Contudo, as ameaças de uma “hecatombe” econômica não se materializaram de forma tão catastrófica. A lista de exceções e a busca por novos mercados minimizaram os impactos das tarifas. A reviravolta ocorreu em setembro, quando Trump, em discurso na 80ª Assembleia Geral da ONU, elogiou o presidente Lula, indicando uma “excelente química” em um breve encontro. Posteriormente, em outubro, líderes se reuniram na Malásia e, em novembro, Trump retirou as tarifas de 40% sobre produtos como café, carne e frutas, vitais para o agronegócio brasileiro. O Brasil agora busca garantia de isenção total para setores como aço e alumínio.
Dólar em Desvalorização e Estímulo ao Comércio Exterior
Apesar do tarifaço ter imposto restrições, ele impulsionou exportadores a buscarem mercados alternativos, o que se refletiu nos indicadores de comércio exterior, como destaca Claudio Monteiro Considera, pesquisador associado do FGV Ibre. Após iniciar o ano em forte tensão, com o dólar comercial ultrapassando a barreira dos R$ 6 em janeiro, a moeda norte-americana encerrou 2025 em trajetória de queda acentuada, sendo negociada na faixa dos R$ 5,40. Essa desvalorização decorreu de uma combinação de fatores: a política comercial protecionista de Donald Trump, a manutenção da taxa Selic em níveis elevados no Brasil e o início do ciclo de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed) nos Estados Unidos.
Analistas apontam que a diferença entre os juros brasileiros e americanos continuou a atrair capital estrangeiro especulativo, em operações conhecidas como carry trade. Com um maior fluxo de dólares entrando no país, a cotação da moeda frente ao real diminuiu. Adicionalmente, o “tarifaço” contribuiu para a redução das expectativas de crescimento da economia americana, levando o Fed a cortar os juros para evitar uma recessão. Essa medida tornou os títulos do Tesouro americano menos atrativos em comparação com mercados emergentes, beneficiando moedas como o real brasileiro.
Imagem: infomoney.com.br
Mercado de Trabalho Resiliente e a Revolução Tributária
Enquanto a indústria se adaptava às taxas internacionais, o mercado doméstico apresentava sinais de aquecimento. O IBGE registrou uma queda consecutiva na taxa de desemprego, que recuou para 5,4% no trimestre encerrado em outubro, marcando a menor da série histórica desde 2012 e desafiando o limite inferior esperado. Parte dessa redução pode ser explicada por uma menor taxa de participação no mercado de trabalho. Paralelamente, o Brasil atingiu um rendimento recorde, com o rendimento real médio em R$ 3.528 no trimestre encerrado em outubro, um aumento de 3,9% em relação ao mesmo período do ano anterior, impulsionado pelo crescimento do emprego formal (CLT), contrariando projeções de desaquecimento.
Ainda que com alta empregabilidade, o mercado de trabalho enfrentou paradoxos em 2025. Empresas relatavam dificuldade em encontrar mão de obra qualificada, devido à concorrência da Gig Economy, fomentada pela pejotização e uberização dos contratos temporários, e registravam os menores índices de engajamento do funcionário. Concomitantemente, o Congresso acelerava a regulamentação da Reforma Tributária, concentrando-se nas leis complementares e na definição da alíquota de transição para o IBS e CBS. Empresas correram contra o tempo para adaptar seus sistemas ao “split payment” (pagamento dividido), previsto para testes em 2026. O debate tributário também gerou projeções significativas, como a possível taxação de até 250% para cigarros e 46% para bebidas alcoólicas, além da duplicação da carga tributária sobre aluguéis residenciais, o que gerou apreensão no setor imobiliário. Em outubro, o Senado aprovou o segundo grande projeto de regulamentação, definindo regras para ITCMD e ITBI, impactando o planejamento sucessório de famílias de alta renda.
PIB em Desaceleração e a Bolsa de Valores em Patamares Inéditos
A atividade econômica em 2025 foi caracterizada por uma desaceleração suave, lidando com a persistência do consumo das famílias. No primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) registrou crescimento de 1,4%, impulsionado pelo setor agropecuário (12,2%), enquanto serviços cresceu 0,3% e a indústria recuou 0,1%. No segundo trimestre, a expansão do PIB foi de 0,4%, acima do esperado, com recordes em serviços e consumo. No terceiro trimestre, a desaceleração prosseguiu, atingindo 0,1%, sustentado pelo agro, petróleo e gás, mas com estagnação no consumo das famílias e serviços.
Instituições financeiras como o Itaú projetam um crescimento do PIB consolidado de 2,2% para o ano, com a economia “andando de lado” na segunda metade de 2025. O UBS estima uma expansão de 1,8% e o Bradesco, 2,0%, destacando a estagnação nos últimos meses. Contudo, em contrapartida, o mercado financeiro viu a Bolsa de Valores alcançar um rali intenso no segundo semestre, superando a marca inédita de 164 mil pontos em dezembro. O principal propulsor desse recorde foi o cenário externo, com o início do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos, que redirecionou o capital global. Investidores internacionais, buscando maiores retornos fora dos títulos do Tesouro americano, voltaram a olhar para mercados emergentes, incluindo o Brasil, onde os juros ainda se mantinham altos, tornando a Bolsa local um destino atraente para esse capital estrangeiro em busca de valorização.
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Em síntese, 2025 se configurou como um ano de extremos para a economia brasileira, com juros elevados combatendo uma inflação persistente, reviravoltas no comércio exterior e recordes no mercado de trabalho e na bolsa de valores. Acompanhe nossas próximas análises para entender como esses desdobramentos moldarão o futuro econômico do país na categoria Economia de nosso site.
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Crédito da imagem: Marcelo Brandt/g1