Problemas nos aeroportos da América Latina geram significativos entraves para milhões de viajantes, impactando a jornada desde a partida.
A experiência de deslocamento aéreo na região frequentemente começa com o desafio de estimar o tempo de deslocamento até o terminal. Com táxis que avançam lentamente e demoras imprevisíveis, o planejamento inicial de qualquer voo na região exige uma margem de segurança considerável, conforme alertam especialistas e as experiências diárias de passageiros.
O cenário problemático estende-se do trajeto até o complexo aeroportuário, impactando diversas capitais da América Latina, onde o ponto crucial é, invariavelmente, chegar a tempo para o embarque. No entanto, as dificuldades não se limitam ao acesso externo. Uma vez dentro dos terminais, os passageiros frequentemente se deparam com filas prolongadas, processos de controle de segurança em ritmo lento, atrasos na entrega de bagagens ou falhas recorrentes em sistemas digitais, especialmente durante períodos de pico de movimento. Este contraste entre o rápido aumento do tráfego aéreo e o lento desenvolvimento da infraestrutura resulta em um descompasso crescente que afeta a eficiência e a satisfação do usuário.
Problemas em Aeroportos da América Latina Impactam Viajantes
Um estudo abrangente sobre os principais terminais aeroportuários da América Latina, conduzido pelos veículos do Grupo de Diários América (GDA), que inclui O GLOBO, revelou que até mesmo aeroportos que passaram por reformas recentes ou inauguraram novas instalações persistiriam com falhas significativas em suas vias de acesso, serviços internos e processos operacionais. Esta análise corrobora a percepção geral de que a capacidade de absorver o crescente número de passageiros não acompanha a expansão física, gerando um estresse contínuo na rede.
A velocidade com que alguns aeroportos alcançaram patamares de crescimento que sequer estavam previstos para esta década figura como uma das razões fundamentais para a defasagem estrutural observada. Em Porto Rico, por exemplo, o Aeroporto Luis Muñoz Marín encerrou o ano de 2024 registrando 13,2 milhões de passageiros, volume que, segundo projeções de Jorge Hernández, presidente da Aerostar Airport Holdings, só seria atingido entre 2043 e 2044. Essa explosão da demanda coloca uma pressão imensa sobre uma infraestrutura desenhada para um cenário futuro.
Outros grandes centros de conexão aérea da região demonstram essa mesma tendência. O Aeroporto El Dorado, em Bogotá, Colômbia, consolidou-se como o mais movimentado da América Latina e Caribe. Em 2024, superou a marca de 45 milhões de passageiros, exibindo um crescimento interanual de 16%, conforme dados do relatório de 2024 do Airport Council International. Estes números espelham uma expansão notável, mas também intensificam os desafios operacionais e a necessidade de aprimoramento constante da infraestrutura aeroportuária.
Mesmo em locais com investimentos recentes, a realidade mostra tensões. O principal portal de entrada para a Argentina, o Aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, inaugurou um novo terminal de 50 mil m² em 2023, com capacidade projetada para 30 milhões de passageiros anuais. Com um investimento expressivo de US$ 1 bilhão, a Argentina buscou antecipar a demanda futura. Contudo, Daniel Ketchibachian, CEO da Aeropuertos Argentina, já anuncia novos planos de investir US$ 600 milhões para modernizar outros aeroportos em todo o país, indicando que a expansão e o aprimoramento contínuo da infraestrutura continuam sendo necessidades urgentes.
O Peru também exemplifica esse descompasso. Em Lima, um novo terminal internacional, considerado um dos projetos de infraestrutura aeroportuária mais ambiciosos e recentes na América Latina, foi inaugurado em 2025. Embora concebido para absorver o crescimento de passageiros por décadas, ele enfrenta um gargalo significativo: seu acesso principal é provisório, composto por pontes modulares. O viaduto definitivo que o conectará eficientemente à cidade está previsto apenas para 2028, tornando o trajeto para Callao, província adjacente à capital onde o aeroporto está localizado, a parte mais incerta da viagem para milhões de usuários. A relevância do acesso terrestre em um aeroporto não pode ser subestimada, sendo um dos principais indicadores da qualidade do terminal em toda a América Latina.
A dificuldade de acesso se manifesta de forma similar em outros países da região. Em El Salvador, o aeroporto principal opera com uma única via de acesso, uma condição que frequentemente resulta em congestionamentos consideráveis, especialmente em dias de alta movimentação ou na chegada de voos internacionais provenientes dos Estados Unidos, que muitas vezes coincidem com os horários de pico local. Já na Costa Rica, a Rodovia General Cañas, que suporta mais de 100 mil veículos por dia, representa uma das rotas mais saturadas do país. O percurso entre a capital, San José, e o Aeroporto Juan Santamaría pode exceder uma hora durante as manhãs de dias úteis. Embora o terminal projete atender 10,4 milhões de passageiros em 2042, a tão necessária ampliação da via de acesso permanece sem conclusão.
Imagem: infomoney.com.br
O Brasil também se insere neste cenário com o Aeroporto de Guarulhos, um dos maiores hubs aeroportuários do hemisfério sul, que carrega um histórico problema de falta de conexão eficaz com o transporte público. Embora uma linha ferroviária exista, ela não chega diretamente ao terminal, obrigando os passageiros a utilizarem ônibus para a etapa final do percurso. A esperança de resolver esse entrave residia no monotrilho, cuja conclusão foi adiada quatro vezes desde 2014, e que, mesmo após ter iniciado este mês uma operação experimental em testes, ainda carece de uma data definitiva para inauguração completa.
Além das questões de acesso, os problemas internos nos aeroportos da América Latina também são frequentes. Em Santiago, o Aeroporto Arturo Merino Benítez sofre com atrasos consideráveis nos voos, apesar das recentes melhorias e ampliações em sua infraestrutura. Em El Salvador, a eficiência do controle migratório, com tempos de conclusão em até 20 minutos, contrasta drasticamente com a demora na restituição das bagagens nas esteiras, que pode levar de 30 a 45 minutos. Para uma visão aprofundada sobre a aviação civil e infraestrutura aeroportuária na região, pode-se consultar o site oficial da ACI-LAC, que oferece dados e análises relevantes do setor.
No entanto, há exceções que apontam caminhos mais eficientes para os terminais da região. O Aeroporto Internacional de Carrasco, que atende Montevidéu, Uruguai, é um exemplo positivo de excelência. Federico Cabrera, gerente de Operações do terminal, explica que um monitoramento contínuo dos tempos de espera em pontos cruciais — como segurança, migração e entrega de bagagem — permite diagnósticos em tempo real e a rápida implementação de medidas corretivas. Como resultado, impressionantes 93% dos passageiros completam os controles em menos de 10 minutos. Da mesma forma, Bogotá, com o Aeroporto El Dorado, demonstra desempenho exemplar com seu avançado sistema biométrico e a reorganização inteligente de fluxos, garantindo que a maioria dos passageiros passe pela migração em até 20 minutos, e que os tempos nos controles de segurança se mantenham altamente competitivos em escala internacional.
No Brasil, apesar de ser um grande polo, o Aeroporto de Guarulhos ainda recebe críticas em aspectos cotidianos como a limpeza das instalações sanitárias e os preços praticados nas lanchonetes, frequentemente citados como as principais reclamações em pesquisas de satisfação de usuários. Esses inconvenientes se tornam ainda mais acentuados em momentos de crise, como os causados por condições climáticas adversas em São Paulo, que resultaram em saguões superlotados e amplos transtornos a voos por todo o país. A persistência de tais falhas sublinha a urgência de uma gestão mais eficiente e um investimento contínuo para elevar o padrão dos serviços e da experiência do passageiro na região.
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Em síntese, o cenário dos problemas nos aeroportos da América Latina revela uma lacuna considerável entre a crescente demanda de passageiros e a adequação da infraestrutura existente. Embora investimentos sejam realizados e inovações implementadas, a falta de planejamento a longo prazo e a ineficácia em aspectos cotidianos continuam a desafiar a experiência do viajante em diversas regiões. Manter-se informado sobre os desdobramentos neste setor é crucial para compreender os impactos na mobilidade e no desenvolvimento econômico. Para mais análises aprofundadas sobre temas relevantes que afetam nossas cidades e infraestruturas, explore nossa editoria de Análises e mantenha-se atualizado com as últimas notícias.
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Crédito da imagem: Marcelo Horn/Arquivo O Globo