A população do Brasil encolherá provavelmente ainda na próxima década, adiantando significativamente a projeção inicial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que previa esse marco para 2042. Esta nova análise é do demógrafo José Eustáquio, fundamentada nos recentes dados da pesquisa Estatísticas do Registro Civil, que foram divulgados nesta quarta-feira, 10 de abril.
De acordo com os relatórios mais recentes, o País vivenciou uma retração recorde na taxa de natalidade entre os anos de 2023 e 2024, registrando uma diminuição de 5,8%. Essa é a maior queda percentual desde o início da década de 1990. Para Eustáquio, este declínio acentuado indica que a fecundidade, que representa o número médio de filhos por mulher, está caindo em um ritmo mais intenso do que o antecipado, acelerando assim o processo de envelhecimento populacional e a consequente redução do contingente de habitantes no território nacional.
População Brasil encolherá antes do previsto, alerta demógrafo
O processo de envelhecimento e encolhimento da população tem uma repercussão direta no encerramento precoce do bônus demográfico. Este período é caracterizado por uma parcela majoritária da população encontrada na faixa etária economicamente ativa, o que historicamente oferece maiores oportunidades para o crescimento econômico de uma nação. A interrupção deste bônus, associada ao declínio populacional e ao aumento da média de idade, pode gerar impactos profundos na estrutura econômica, nos sistemas de saúde pública e nas bases previdenciárias do Brasil.
Aceleração na Queda de Nascimentos
José Eustáquio esclarece a complexidade por trás dessa notável diminuição no número de nascimentos, diferenciando natalidade e fecundidade. Ele pontua que, enquanto a fecundidade, que mensura a quantidade de filhos por mulher, tem apresentado uma curva descendente há mais de dez anos, a natalidade, que se refere ao número total de nascimentos em relação à população global, era influenciada positivamente pelo crescimento contínuo do número de mulheres em idade reprodutiva. Desse modo, embora as mulheres estivessem tendo menos filhos, a ampliação do contingente de mulheres aptas a gerar filhos mantinha a natalidade em patamares relativamente estáveis.
No entanto, a configuração atual mostra uma mudança fundamental. Devido ao progressivo envelhecimento da população, o número de mulheres no período fértil também começou a regredir. Esta combinação, junto à observação de uma aceleração ainda mais pronunciada da queda da fecundidade, evidencia um cenário onde o declínio populacional está se intensificando além das projeções prévias. Se a diminuição da fecundidade persistir nesse ritmo atual, as previsões apontam para um cenário em que a população brasileira começará a encolher em menos tempo do que se estimava, talvez antes de 2042, já se consolidando na próxima década.
Outras Hipóteses para a Redução
Além da queda da fecundidade geral e da diminuição do número de mulheres em idade fértil, outros fatores demográficos contribuem para explicar essa acentuada redução na natalidade. O demógrafo ressalta a importância da diminuição da maternidade na adolescência. Apesar de ainda ser um índice relevante, a proporção de nascimentos de mães adolescentes teve uma redução notável nas últimas duas décadas, passando de 20,8% para 11,3%.
Adicionalmente, um aspecto crucial é a tendência crescente de muitas mulheres adiarem a maternidade. Os dados confirmam essa mudança cultural e social: em 2004, aproximadamente 52% dos nascimentos eram de mães com até 24 anos de idade. Em contraste, em 2024, essa proporção caiu significativamente para 34,6%. Esse adiamento na decisão de ter filhos pode alterar os indicadores de natalidade momentaneamente, ao deslocar o período reprodutivo para idades mais avançadas, impactando as estatísticas em diferentes momentos da vida de uma geração.
Impacto da Situação Econômica e Social
Ao abordar se a conjuntura econômica do Brasil poderia ser a principal impulsionadora dessa redução acentuada na natalidade, o especialista pondera que, neste contexto, uma crise econômica não é o fator central. Ele destaca que o cenário econômico recente tem demonstrado crescimento, inclusive superando o período governamental anterior, e a taxa de desemprego alcançou os menores índices históricos. Observa-se ainda uma melhora nos indicadores sociais como a diminuição da pobreza e o aumento da renda geral. Essa conjuntura sugere uma melhoria generalizada nas condições de vida.
Imagem: infomoney.com.br
José Eustáquio aponta que a relação entre economia e fecundidade não é simplista: o aumento da renda, a maior qualificação educacional e a elevação do nível de consumo tendem, paradoxalmente, a provocar uma diminuição na taxa de fecundidade. Assim, a hipótese levantada é que, na realidade, a melhoria observada nos indicadores sociais pode ter agido como um acelerador na queda da fecundidade no país.
Crescimento do Número de Óbitos
Paralelamente à redução da natalidade, os dados do Registro Civil também revelam um aumento substancial no número anual de mortes. Em 2024, foi registrado um incremento de 4,6% nos óbitos, o que se traduz, em valores absolutos, em 65.811 registros adicionais em comparação com o ano de 2023. O demógrafo José Eustáquio classifica esse aumento como esperado, explicando que a probabilidade de falecimento naturalmente se eleva com a idade. Dada a crescente proporção de idosos na população brasileira e o fato de que a taxa de mortalidade é mais alta nesse grupo etário, o aumento de óbitos configura-se como uma consequência natural do envelhecimento demográfico do país.
Desafios e Oportunidades Demográficas
A antecipação do término do bônus demográfico no Brasil é frequentemente vista como um desafio imenso para o País. No entanto, o demógrafo José Eustáquio apresenta uma perspectiva mais otimista, optando por encarar esta transição como uma oportunidade estratégica. Ele argumenta que o declínio populacional e o envelhecimento não são, por si só, barreiras intransponíveis para o progresso. Exemplos internacionais sustentam sua visão: vários países onde a população já se encontra em declínio ou já é significativamente mais envelhecida continuam a registrar sólido crescimento econômico.
A Polônia é um caso notável; no início dos anos 90, possuía uma renda per capita similar à do Brasil e, atualmente, com uma população menor e mais envelhecida, sua renda per capita foi multiplicada por três. Outros países como a Tailândia, onde a população também já está em declínio, continuam a ver um crescimento robusto em sua renda. Até mesmo a China, com sua própria dinâmica demográfica e desafios relacionados ao envelhecimento, conseguiu manter um ritmo de crescimento impressionante ao longo das últimas décadas, mostrando que a demografia, embora crucial, não é o único determinante do sucesso econômico.
Para obter dados detalhados e projeções atualizadas sobre a população e a economia, você pode consultar o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a principal fonte oficial de estatísticas no Brasil. Estes dados são cruciais para compreender as transformações demográficas e seus múltiplos reflexos em áreas como infraestrutura, previdência social e mercado de trabalho.
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A antecipação do encolhimento populacional no Brasil, impulsionada pela queda recorde de natalidade e pelo envelhecimento acelerado, redefine importantes aspectos da vida nacional. Para aprofundar seu entendimento sobre os desafios e oportunidades que as mudanças sociais e econômicas representam para o país, explore outras análises em nossa editoria de Economia. Esteja sempre informado sobre como as projeções demográficas moldam o futuro do Brasil.