Economia 2026: Projeções e Desafios Fiscais no Brasil

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As projeções para a economia do Brasil em 2026 indicam um cenário ligeiramente mais favorável, embora desafios persistentes na política fiscal continuem a exigir atenção. Esta é a análise de importantes economistas brasileiros, que debateram as tendências e riscos para o mercado financeiro e investidores no evento “Onde Investir 2026”, promovido pelo InfoMoney.

Os economistas-chefes Caio Megale, da XP, e Rafaela Vitória, do Banco Inter, ofereceram um diagnóstico que aponta para uma melhoria gradual, porém sem grandes transformações estruturais, sinalizando um progresso modesto. As discussões aprofundaram-se nas incertezas herdadas de 2025 e nos novos elementos que moldarão as expectativas.

O foco principal do debate esteve nas projeções para a taxa Selic, nas perspectivas para as contas públicas e nos potenciais impactos inflacionários de políticas governamentais. A abordagem dos especialistas permitiu traçar um panorama detalhado dos riscos e oportunidades que caracterizarão a

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, reforçando a importância de um olhar cuidadoso sobre os indicadores macroeconômicos.

Análise do Panorama Econômico Anterior e Atual

As comparações com o período de transição entre 2024 e 2025 foram inevitáveis. Os economistas ressaltaram as marcantes diferenças, principalmente a comunicação inconsistente do governo sobre as metas fiscais e a incerteza gerada pela possível chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, fatores que impulsionaram a valorização global do dólar e causaram turbulência na precificação de ativos.

Caio Megale recordou o período de grande estresse nos mercados, que levou o câmbio a patamares próximos de R$ 6,30 e taxas de juros de longo prazo atingindo quase 18% em termos nominais. Essa conjuntura gerou forte pressão sobre o Banco Central (BC) e o Ministério da Fazenda. Ele enfatizou que, embora o momento atual possa parecer mais calmo, muitas das incertezas domésticas e externas daquele período ainda persistem, configurando um risco latente para os mercados financeiros.

Rafaela Vitória complementou a análise, destacando o ressurgimento das preocupações inflacionárias quando o câmbio se aproximava dos R$ 6,30. Ela explicou que a valorização subsequente do real para a casa dos R$ 5,40 e a significativa restrição monetária promovida pelo BC foram cruciais para reverter a trajetória da inflação, oferecendo uma visibilidade mais positiva, ao menos no curto prazo. Atualmente, a expectativa é que o ano de 2025 finalize com a inflação dentro da meta estabelecida e que essa tendência de controle se mantenha para 2026, apesar da persistência de incertezas.

Perspectivas para a Taxa Selic e a Ação do Banco Central

Os economistas concordaram sobre o papel fundamental do Banco Central na estabilização das expectativas inflacionárias, permitindo sua convergência para dentro da banda de tolerância da meta, cujo objetivo central é de 3% com margem de 1,5 ponto percentual. Diante desse cenário, há um consenso de que o BC terá espaço para iniciar uma flexibilização monetária, promovendo cortes na taxa Selic a partir do primeiro trimestre de 2026.

Entretanto, existem leves divergências quanto ao timing desses cortes. Rafaela Vitória projeta uma possível redução na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) já em janeiro de 2026, com uma previsão orçamentária de corte de 300 pontos-base ao longo do ano, levando a Selic a terminar 2026 em torno de 12%. Ela acredita que, apesar das incertezas para o segundo semestre, o BC terá tranquilidade para efetuar alguns cortes iniciais. Mais informações sobre as metas de inflação do BC podem ser consultadas no site do Banco Central do Brasil.

Caio Megale, por sua vez, sugeriu maio como o ponto de partida mais provável para o início dos cortes, com março como o cenário-base da XP. Ele enfatizou a importância de analisar a atividade econômica e o nível de emprego, traçando um paralelo com a situação do Federal Reserve nos EUA. Enquanto o emprego nos Estados Unidos pode se deteriorar rapidamente, no Brasil, o mercado de trabalho mostra-se robusto. Para Megale, um mercado de trabalho aquecido permite ao BC maior cautela, aguardando a consolidação de uma inflação mais baixa antes de promover cortes mais agressivos.

Os Desafios da Política Fiscal para o Quadriênio 2027-2030

Outro ponto crítico no debate do evento “Onde Investir 2026” foi a saúde das contas públicas, especialmente em um ano pré-eleitoral. Ambos os especialistas afirmaram que o governo, muito provavelmente, alcançará as metas estipuladas para 2025 e 2026. No entanto, alertaram que essa conformidade será viável apenas devido a várias exceções de gastos, que excluem despesas relevantes do cálculo da meta fiscal, maquiando o resultado final.

O foco das maiores preocupações, segundo os economistas, deve recair sobre o horizonte do quadriênio 2027-2030, que coincidirá com o próximo mandato presidencial. Rafaela Vitória destacou que o problema fiscal do país reside na necessidade de um controle efetivo dos gastos. Ela criticou tanto a rigidez excessiva do teto de gastos anterior, que gerou “furos”, quanto o arcabouço fiscal atual, que, em sua visão, “não controlou nada”. Para ela, o Brasil precisa encontrar um caminho intermediário para a gestão fiscal.

Caio Megale ponderou sobre a abordagem do governo em “colocar o pobre no Orçamento e o rico no imposto”, traduzindo-se em um aumento de tributos para certas áreas da economia para financiar transferências de recursos aos mais pobres. O risco dessa política, na visão de Megale, reside na natureza das despesas – que tendem a ser recorrentes e rígidas – contrapondo-se à volatilidade das receitas. Essa dinâmica, segundo ele, cria uma “forma estressante de se viver” para as contas públicas, constantemente em busca de equilíbrio financeiro.

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Imagem: infomoney.com.br

Propostas para a Contenção e Otimização de Gastos Públicos

Durante o debate, os economistas apresentaram algumas sugestões para a contenção dos gastos. Rafaela Vitória apontou a existência de diversos programas sociais que foram se acumulando sem uma revisão adequada de sua qualidade e eficiência. Ela sugeriu que a consolidação desses programas e a busca por um gasto mais eficiente poderiam abrir espaço para controlar o crescimento das despesas.

A economista do Inter citou o Benefício de Prestação Continuada (BPC) como um exemplo, cujo desenho atual pode até atrapalhar a reforma da Previdência ao garantir um salário-mínimo a quem nunca contribuiu, criando um incentivo negativo de longo prazo para a própria contribuição previdenciária. O segundo ponto levantado por Vitória foi a política de valorização real do salário-mínimo, reintroduzida pelo governo Lula, que, embora benéfica para o poder de compra, impacta significativamente as contas públicas, especialmente a Previdência.

Rafaela argumentou que as contas públicas atuais não têm capacidade para sustentar essa política sem revisão, dado o alto patamar de gastos com Previdência no Brasil, que supera o de muitos emergentes e se aproxima dos desenvolvidos, apesar de a capacidade de arrecadação ser inferior. Para Megale, a revisão de programas específicos é desafiadora, pois há sempre “grupos muito fortes defendendo aquele programa”, sem uma contraparte organizada para defendê-lo.

Apesar disso, o economista da XP expressou certo otimismo de que o próximo governo, eleito e respaldado pelas urnas, terá a força política necessária para tomar decisões importantes sobre o equilíbrio fiscal após as eleições. Embora as contas do curto prazo possam fechar, ainda que com déficit e aumento da dívida, ele alertou que o cenário projetado para cinco, seis ou sete anos à frente “em algum momento vai dar problema”.

Potencial Impacto Inflacionário das Transferências de Renda

Ambos os especialistas também levantaram a possibilidade de retorno do risco inflacionário, impulsionado pelas transferências de renda governamentais e pela isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil, medidas que podem incentivar o consumo das famílias.

Para Rafaela, as transferências de renda contribuíram positivamente para a economia via consumo, especialmente após o uso da capacidade ociosa decorrente da recessão de 2014-2015 e da pandemia. Contudo, ela alerta que esse limite foi alcançado. Com o mercado de trabalho aquecido, “colocar mais transferência de renda para as famílias nesse momento é colocar mais lenha na fogueira do consumo”.

A mensuração precisa desse risco é difícil, segundo Rafaela, mas ela destaca que, com a taxa de juros a 15%, a inflação já deveria ter atingido 3% há muito tempo. A persistência de uma inflação acima do esperado é parcialmente atribuída ao gasto fiscal. Ela projeta uma inflação em 2026 similar a 2025, em torno de 4%, com risco de alcançar 4,5% ou 5%. A política monetária continua a conter a inflação, mas o risco de manter taxas de juros elevadas por um período mais prolongado permanece.

Caio Megale reiterou que fatores benignos para os preços em 2025 – como um câmbio favorável, forte produção agropecuária, contração monetária e fiscal simultâneas e um cenário externo propício – não devem se repetir em 2026. A combinação de um câmbio menos favorável, inflação de alimentos menos branda e políticas monetária e fiscal menos contracionistas (principalmente a fiscal) pode resultar em uma inflação mais alta no próximo ano, comparado a 2025, conforme as expectativas.

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Em suma, as projeções para 2026, conforme análise dos economistas da XP e Banco Inter, apontam para uma melhoria modesta na conjuntura econômica brasileira. A esperança de cortes na Selic contrasta com a preocupação constante com a sustentabilidade fiscal, especialmente a partir de 2027, e os riscos inflacionários provenientes da dinâmica de gastos e transferências de renda. Para acompanhar as análises detalhadas e as últimas notícias sobre as tendências do mercado e as políticas econômicas, continue navegando na nossa editoria de Economia.

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Crédito da imagem: Divulgação

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