A crescente inflação está atraindo famílias de alta renda para lojas de desconto nos EUA, evidenciando uma profunda reconfiguração no cenário do consumo americano. Uma observação incomum foi registrada pela rede Dollar Tree, que anunciou, em seu balanço do terceiro trimestre, que aproximadamente 60% dos três milhões de novos lares que realizaram compras em suas unidades anualmente possuem uma renda superior a US$ 100 mil. Este dado sublinha como a pressão financeira está alcançando estratos sociais que tradicionalmente não frequentavam esses estabelecimentos de baixo custo.
A realidade atual da economia dos Estados Unidos revela uma divisão cada vez mais acentuada. Desde 2020, os preços registraram um aumento acumulado de cerca de 25%, uma alta que o crescimento salarial não acompanhou de maneira uniforme para a maioria das famílias. Essa dinâmica força consumidores de diversas faixas de rendimento a buscar ofertas e promoções, alterando padrões de compra estabelecidos.
Inflação atrai famílias de alta renda para lojas de desconto nos EUA
Em um reflexo claro dessa tendência que observa a migração dos consumidores, o CEO da Dollar Tree, Michael Creedon Jr., declarou a analistas que, embora clientes de maior poder aquisitivo estejam se direcionando à rede, famílias com menor poder aquisitivo estão dependendo mais do que nunca de seus serviços. A companhia, sediada na Virginia, onde 85% das vendas trimestrais se mantiveram em US$ 2 ou menos, observou um crescimento de 4,2% nas vendas de lojas já existentes.
A Dollar General, outra gigante do setor de lojas de dólar nos Estados Unidos, com aproximadamente 21 mil unidades, reportou uma dinâmica de mercado análoga em seu relatório financeiro semanal. O CEO Todd Vasos também pontuou um crescimento notável na procura por parte de famílias com rendimentos mais elevados durante o terceiro trimestre. A empresa registrou uma elevação de 2,5% nas vendas e um aumento similar no fluxo de clientes, resultando em um lucro líquido de US$ 282,7 milhões, um avanço expressivo de 44%. Paralelamente, a rede de varejo de descontos Five Below revisou suas projeções de lucro para cima para o período restante do ano, impulsionada tanto pela robusta demanda por produtos com preços acessíveis quanto pela instabilidade percebida no mercado de trabalho.
Economia em Formato de K: Mudança de Hábitos do Consumidor
Essa alteração no comportamento de compra é compreendida por analistas como um sintoma de uma “economia em formato de K”, um cenário em que cidadãos mais afluentes desfrutam dos benefícios de um mercado de ações em alta e da valorização de ativos, mantendo seus níveis de consumo elevados. Enquanto isso, grande parte da população ajusta seus gastos. Uma análise da RBC Economics aponta que a faixa dos 10% a 20% mais ricos é a principal impulsionadora do crescimento do consumo, ao passo que os 80% restantes da população demonstram pouca reserva financeira e enfrentam pressões econômicas crescentes em seu dia a dia.
O Impacto nos Grandes Varejistas e Indicadores Financeiros
A Kroger, reconhecida como a maior rede de supermercados do país, também trouxe à luz observações que corroboram esse panorama em seu recente balanço divulgado na quinta-feira. O CEO Ron Sargent, ao conversar com analistas, destacou a formação de uma dicotomia entre diferentes grupos de renda. Enquanto os gastos dos lares com rendimento mais alto continuam firmes, os consumidores de renda média experimentam uma tensão financeira crescente, espelhando a situação enfrentada por famílias de baixa renda nos trimestres anteriores.
Esses consumidores de renda média e baixa, conforme adicionado por Sargent, estão optando por fazer compras em volumes menores e com maior frequência, buscando uma gestão mais rígida de seus orçamentos e reduzindo despesas não essenciais. Essa tensão financeira é confirmada pelos dados de crédito nacionais. A dívida acumulada pelas famílias americanas atingiu um patamar recorde de US$ 18,59 trilhões no terceiro trimestre de 2025. Além disso, a inadimplência em cartões de crédito escalou a níveis que não eram observados desde o ano de 2011. Nesse contexto, a inflação anual registrou 3% em setembro, de acordo com os mais recentes relatórios do Bureau of Labor Statistics.
Oportunidades e Desafios para as Redes de Desconto
Para as redes de varejo que operam sob o modelo de lojas de um dólar, a chegada de clientes com maior poder aquisitivo configura, simultaneamente, uma oportunidade de expansão e um desafio operacional. No caso da Dollar Tree, apesar do afluxo de novos consumidores, houve uma redução de 0,3% no fluxo geral de clientes — a primeira queda desde o ano fiscal de 2022. Essa dinâmica é atribuída ao fato de que as famílias de alta renda, embora mais novas no público da loja, realizam visitas com menor frequência se comparadas aos clientes tradicionais da rede. Adicionalmente, a Dollar Tree se viu compelida a ajustar seus preços para cima, em resposta direta às tarifas de importação. Michael Creedon Jr. reconheceu a medida como uma “ação inevitável”, enquanto o diretor financeiro da empresa se referiu a ela como uma “atividade de precificação associada às tarifas”.
Confira também: meusegredoblog
O panorama atual revela uma economia multifacetada nos EUA, onde a inflação está redefinindo os hábitos de consumo em todas as faixas de renda. A migração de famílias mais abastadas para redes de desconto demonstra a versatilidade do mercado em se adaptar a pressões econômicas, ao mesmo tempo em que destaca a crescente vulnerabilidade de segmentos de renda média e baixa. Para continuar acompanhando as análises sobre o comportamento do consumidor e as tendências de mercado, explore mais artigos em nossa categoria de Economia.
Contato: Fale com Nossas Equipes
2025 Fortune Media IP Limited