Investir em ações que distribuem dividendos mensais tem se consolidado como uma estratégia popular entre os investidores brasileiros que buscam não apenas multiplicar o capital, mas também garantir uma fonte regular de renda. A busca por essa modalidade de recebimento levanta a questão da viabilidade de construir uma carteira de ações capaz de gerar proventos a cada mês, combinando a flexibilidade da renda variável com a previsibilidade dos fluxos financeiros.
Para desvendar esse cenário, um levantamento conduzido por Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta, a pedido do InfoMoney, identificou nove companhias que realizaram pagamentos de dividendos ou Juros Sobre Capital Próprio (JCP) mensalmente no período entre dezembro do ano passado e novembro de 2025. Predominantemente, o estudo aponta para papéis do setor bancário, conhecidos por sua política de pagamentos regulares como forma de atrair investidores, embora também haja a presença de empresas dos segmentos imobiliário e de calçados na lista.
Carteira de Dividendos Mensais: Estratégias e Rendimentos
A rentabilidade dos proventos em relação ao valor da ação, conhecido como dividend yield, se mostra atrativa, com a maioria das empresas oferecendo retornos anuais superiores a 7%, e alguns casos atingindo a expressiva marca de 30% em um ano. Os dados revelam as seguintes companhias, seus respectivos setores e o dividend yield anual estimado:
- Alos ON (ALOS3 – Imóveis): 7,17%
- Banestes ON (BEES3 – Bancos): 4,76%
- Banestes PN (BEES4 – Bancos): 4,72%
- Bradesco ON (BBDC3 – Bancos): 10,98%
- Bradesco PN (BBDC4 – Bancos): 10,64%
- Itaú Unibanco ON (ITUB3 – Bancos): 10,13%
- Itaú Unibanco PN (ITUB4 – Bancos): 8,86%
- Mitre ON (MTRE3 – Incorporações): 14,50%
- Vulcabrás ON (VULC3 – Calçados): 30,15%
A obtenção de renda mensal com proventos esbarra na particularidade de que a maior parte das empresas opta por distribuições trimestrais ou semestrais, concentrando volumes mais elevados nos primeiros meses do ano, após a divulgação dos balanços anuais. Conforme pontua Rodrigo Santoro, head de ações da Bradesco Asset Management, a quantidade de companhias que oferecem dividendos mensais relevantes é restrita, geralmente limitando-se a bancos com valores pequenos e sem grande recorrência, que só aumentam significativamente com o resultado anual. Santoro sugere que, para atingir uma renda mensal consistente, o investidor organize um planejamento combinando ações de várias empresas. Ele ressalta que o foco mensal pode ser um desafio e sugere que o ideal seria direcionar os dividendos recebidos para aplicações de renda fixa de curto prazo, de onde os recursos seriam gradualmente utilizados.
No Brasil, o dividend yield médio orbita em torno de 6% ao ano, mas diversas empresas superam essa marca, de acordo com Santoro. Em muitos casos, os lucros crescem em patamar superior à inflação. O especialista prevê que os pagamentos de dividendos para o próximo ano devem alcançar um rendimento médio de 6,5%. Esse valor representa uma leve queda em relação aos mais de 7% registrados no ano corrente, uma elevação que foi impulsionada pela antecipação das distribuições feitas por companhias que visavam mitigar a tributação de 10% sobre dividendos superiores a R$ 50 mil mensais, a entrar em vigor no ano seguinte. Entender as regulamentações do mercado financeiro pode ser aprofundado consultando fontes oficiais como a Bolsa de Valores B3.
Adicionalmente ao potencial de ganho com dividendos, analistas reforçam que empresas com um histórico de distribuição regular de lucros tendem a ser companhias consolidadas, maduras e que exibem sólida geração de caixa. Essas organizações frequentemente possuem menor endividamento e demandam menos investimentos significativos, configurando-se como opções de maior segurança para serem incorporadas na carteira do investidor. Contudo, é fundamental lembrar que não há garantias de que os valores distribuídos se manterão constantes, uma vez que podem flutuar em consonância com a performance financeira de cada companhia.
Bruna Sene, analista de Renda Variável da Rico Investimentos, destaca aspectos positivos inerentes às boas pagadoras de proventos. Primeiramente, a disciplina e a qualidade operacional: empresas com consistência na distribuição de dividendos geralmente possuem modelos de negócios mais estáveis, com fluxo de caixa previsível e menor alavancagem financeira, o que reduz surpresas negativas para a carteira. Em segundo lugar, para aqueles que optam por reinvestir os dividendos na própria empresa, há o benefício do efeito dos juros compostos ao longo do tempo, um fator que pode amplificar consideravelmente o retorno do investimento.
Outro ponto relevante é o potencial de valorização da própria ação. A soma do ganho proveniente dessa valorização com os dividendos configura o retorno total do investimento. Essa combinação tem a capacidade tanto de amplificar quanto de reduzir o resultado obtido com os lucros. Bruna observa que a performance da ação pode ser otimizada com a reversão do ciclo de juros. Em um cenário onde o mercado precifica a queda de juros, como o contexto atual, ações de qualidade com robusto potencial de dividendos podem se beneficiar tanto do fluxo de novos investimentos quanto da reprecificação favorável das ações em razão de taxas de juros mais baixas. Entretanto, ela adverte que os dividendos de ações não se assemelham a um cupom de renda fixa garantido; eles estão sujeitos à volatilidade do mercado e podem variar. Desse modo, a estratégia é mais adequada para investidores com um horizonte de tempo de investimento mais dilatado, que toleram oscilações de mercado e almejam combinar geração de renda com a perspectiva de valorização do capital investido.
Imagem: infomoney.com.br
O investidor deve manter atenção à nova legislação tributária. A regra estabelece a incidência de 10% de imposto sobre dividendos que excederem R$ 50 mil mensais, aplicada sobre os lucros gerados a partir do próximo ano. É importante ressaltar que lucros apurados até 31 de dezembro de 2025 poderão ser distribuídos até 2028 sem a incidência desse imposto. Essa mudança estimulou muitas empresas a acelerar suas distribuições neste ano, utilizando lucros retidos e reservas. Cálculos da XP Investimentos projetam que os valores adicionais a serem anunciados no final deste ano poderiam oscilar entre R$ 42 bilhões e R$ 85 bilhões.
Nos casos em que o montante de dividendos ultrapassar o limite de R$ 50 mil mensais, a empresa responsável pelo pagamento deverá efetuar a retenção de 10% referente ao imposto até o momento da declaração de ajuste anual do acionista. Se, ao longo do ano, o acionista já houver pago um imposto superior a 10% considerando outras fontes de renda tributáveis, não haverá cobrança adicional sobre os dividendos. Contudo, se o imposto pago for inferior a 10%, a diferença será recolhida sobre os dividendos recebidos. Vale destacar que investimentos isentos de imposto, como Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e fundos imobiliários, não são considerados para este cálculo.
Em relação a uma forma adicional de assegurar rendimentos mensais, os Fundos Imobiliários (FIIs) despontam como alternativa relevante. Segundo Marcos Baroni, head de Fundos Imobiliários da Suno Research, o retorno médio em dividendos dos FIIs que compõem o Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários (IFIX) oscila entre 10% e 12% ao ano, o que se traduz em um pagamento médio mensal que varia de 0,8% a 1,0%. Adicionalmente aos dividendos, é crucial que o investidor avalie o retorno total, que engloba também a variação das cotas do fundo. Baroni estima que fundos imobiliários de “tijolo”, que investem diretamente em imóveis, apresentam um dividend yield de 9% ao ano, enquanto aqueles que investem em títulos do setor, como CRIs, podem pagar cerca de 12% anualmente.
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Em síntese, construir uma carteira com dividendos mensais é uma estratégia factível, mas que demanda planejamento cuidadoso e entendimento das particularidades do mercado de ações e fundos imobiliários. A análise das companhias e a gestão da tributação são essenciais para otimizar os recebimentos. Para continuar explorando tópicos do mercado financeiro e estratégias de investimento, navegue pela nossa editoria de economia e aprofunde seus conhecimentos para decisões mais assertivas.
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Crédito da imagem: InfoMoney